* Por Avelino Ferreira (Vice presidente do PTB de Campos)
José
Carlos Vieira Barbosa debutou como candidato pelo PTB, que tinha em
nível municipal dois nomes de grande expressão: Heli Ribeiro Gomes e
José Alves de Azevedo. Sua candidatura foi lançada por Heli, com alguns
senões de José Alves, que era o prefeito (1958/1962). A justificativa de
José Alves era que, embora muito forte, o PTB, Zezé Barbosa era novato e
não faria frente aos nomes dos ex-prefeitos Ferreira Paes (1947/1950) e
Barcelos Martins (1954/1958).
De fato, a eleição foi decidida
numa urna de Mussurepe. Barcelos Martins obteve 23 votos a mais que
Ferreira Paes, alcançando 21.134 sufrágios, contra 21.111 de seu
principal concorrente. Zezé Barbosa, no entanto, obteve uma expressiva
votação: 18.688 votos e o quarto colocado, Rufino Filho, 1.772.
Registre-se que, naquela época, o vice era eleito e Rockfeller de Lima,
do PTB, que era vereador, ganhou com 13.871 votos, contra seu principal
oponente Dermeval Crespo, que teve 12.519 votos.
Em 1966, após o golpe de 1964 e
as cassações que se sucederam, além do receio de muitas
lideranças populares devido as ameaças de perseguição, prisão etc.,
(Barcelos Martins, pressionado pelos golpistas, morre em abril de 1964 e
Rockffeler torna-se prefeito) a legislação golpista acabou com os
partidos e permitiu duas legendas apenas - Arena (Aliança Renovadora
Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro).
José Alves ingressou no MDB e
Zezé Barbosa, na Arena, assim como Ferreira Paes. José Alves obtém
28.087 votos contra 26.346 votos de Zezé, o segundo colocado. Todavia, a
ditadura, temendo um fracasso eleitoral da Arena em todo o país,
aprovou a sublegenda, pela qual os partidos podiam lançar até três
candidatos à Prefeitura. Dessa maneira, José Alves ganhou mas não levou,
porque somados, os votos da Arena eram maioria, já que Ferreira Paes
obteve 13.546 votos e Wilson Sá, 2.062. Proclamado prefeito, Zezé obteve
o primeiro de seus três mandatos como prefeito de Campos.
O verão de 1966 foi um dos
piores para Guarus. O Paraíba castigou as partes baixas da cidade e, por
falta de contenção na margem esquerda, muito mais baixa, a água invadiu
toda a área até a Lagoa do Vigário. Zezé conseguiu apoio para a
reconstrução do trecho alagado e o cais foi feito, protegendo os
moradores da beira-rio. Não havendo reeleição, em 1970 o eleito foi
Rockfeller, mas o mandato era "tampão", de apenas dois anos. Mais uma da
ditadura.
Em 1972, dessa vez com apoio do
então deputado Alair Ferreira (ex-desafeto, pois Alair era do PSD e,
após, o golpe, conseguiu eleger-se deputado, tonando-se uma das
lideranças da Arena no Estado, cuja capital era Niterói, até a fusão, em
1975), Zezé Barbosa é eleito com 48.369 votos, contra Heli Ribeiro
Gomes, o outro candidato da Arena, que obteve 25.994 votos. O MDB,
contou com Walter Silva, obteve 26.193 votos, Hélio de Azevedo Gomes, o
Lelé, 5.277 votos e Manoel Luis Martins, 571 votos.
Em 1982 Zezé voltaria a governar
Campos, dessa vez para um mandato de 06 anos. Naquela oportunidade,
após a reabertura política e a volta de muitos cassados pela ditadura,
entre os quais Leonel Brizola, o mais notório deles, havia cinco
partidos, podendo cada um lançar até três candidatos. Raul Linhares, que
se elegera prefeito em 1976, renunciou para concorrer ao Senado e
assumiu o vice, o médico Wilson Paes, que apoiou a candidatura de Zezé
Barbosa, então no PMDB, contra o principal oponente, agora no PDS,
Rockffeler de Lima. Zezé obteve 60.942 votos contra 41.647 de Rock.
Nessa eleição, foram muitos os
candidatos: o PDT lançou o médico César Ronald, que ficou em terceiro
com 10.054, Jorge Renato Pereira Pinto, com 8.536, Nilo Siqueira, com
8.037, José Maria Monteiro de Barros, com 4.467 votos, Ângela ´peixoto
do Carmo, com 3.632 votos, Sidney Pascoutto (PT), com 2.594 votos,
Ramiro Alves Pessanha, com 2.282 votos e Jordão Braga, que obteve 1.079
votos.
Em 1988, Zezé Barbosa apoiou
Jorge Renato Pereira Pinto. Mas o pleito foi vencido por Anthony
Garotinho, que obteve 62.953 votos contra 51.408 votos de Rock e 22.008
de Jorge Renato. Foram candidatos ainda Amaro Gimenes (18.105), Barbosa
Lemos (16.311), Luis Antônio (PT) (1.214), Leonildo Martins (998) e
Carlos Alberto Redondo (829).
Atribui-se a Zezé a metáfora:
"vamos ver se ele é uma chuva forte, de verão ou se é uma chuva fina. Se
for forte, aguardo debaixo da marquise, porque passa rápido. Se for
fina, vou para casa, porque vai demorar", numa referência à
adminuistração Garotinho, que era uma incógnita justamente por ser ele,
na época, um "novato" e "inexperiente".
Mais tarde, Zezé ainda tenta uma
cadeira na Assembléia Legislativa, mas não conseguiu se eleger. E em
todos os pleitos municipais até recentemente, foi lembrado como uma
liderança que poderia compor uma chapa. Fui seu adversário ferrenho e,
passadas as eleições de 1982, ele chamou o presidente do meu partido, o
PDT, João de Souza e pediu que João converssasse comigo, porque a
eleição já havia passado e eu continuava em campanha contra ele. Na sua
opinião, não fazia sentido. Todavia, eu e Garotinho e mais alguns
amigos, estávamos nas ruas desgastando sua imagem para que no futuro
(1988) tivéssemos alguma chance.
Após deixar o governo, Zezé, com
aquele seu jeito bonachão, brincalhão, angariava simpatia dos seus
adversários e tornei-me seu amigo. Conversamos muito em várias ocasiões.
Ríamos dos nossos erros e sempre o respeitei como liderança política.
Aliás, em política nunca fiz inimigos. Sou amigo de sua filha, figura
maravilhosa, a Beatriz, e me relaciono muito bem, respeitosamente, com
Sérgio Diniz, seu genro.
Zezé está inserido na história
de Campos e raramente seu feito será repetido, o de ter sido prefeito
por três vezes, tendo cumprido seus mandatos até o fim, num tempo em que
não havia reeleição. O "jingle" de sua campanha de 1972, composto pelo
homônimo Zezé Barbosa, radialista, até hoje é lembrado: "Quando o povo
quer, não adianta ninguém segura, Zezé Barbosa e Lourival Beda na
Prefeitura". Repetiu em 1982, quando teve como vice Valdebrando Silva.
A Prefeita Rosinha Garotinho
decretou luto oficial de três dias pelo falecimento do ex-prefeito de
Campos, José Carlos Vieira Barbosa, 81 anos. "Zezé Barbosa foi um
político que, no seu tempo, principalmente até 1982, exerceu uma
liderança incontestável no município de Campos. As pessoas podem até
discordar das suas propostas, mas que ele tinha um carisma muito grande
com a população, isso é inegável. E, certamente, a sua perda deixará um
vazio para as pessoas que o seguiram por tanto tempo" - disse a Prefeita
Rosinha Garotinho. Zezé, falecido ontem, foi velado na Câmara Municipal
e sepultado no cemitério do Caju na manhã de hoje.
tempos bons
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